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quarta-feira, 11 de abril de 2012

Sangue Menstrual é boa fonte de células tronco

Médicos do Instituto Nacional de Cardiologia (INC), em parceria com o Instituto de Biofísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), conseguiram transformar células do sangue menstrual em células-tronco capazes de se comportar como embrionárias – ou seja, que têm a capacidade de se transformar em diferentes tecidos do corpo e podem ajudar na pesquisa de novos tratamentos.
A descoberta é de um importante avanço nas terapias celulares, que prometem reparar tecidos danificados por doenças ou traumas. O primeiro alvo dos pesquisadores serão as células do músculo cardíaco de pacientes com uma arritmia cardíaca rara, a síndrome do QT longo, sujeitas à morte súbita. As células obtidas pelos brasileiros são chamadas pluripotentes induzidas (iPS) – reprogramadas para terem as mesmas características das células embrionárias.
Em sua primeira tentativa, os médicos usarão o sangue menstrual de mãe e filha com QT. “Com as células induzidas, vamos reproduzir a doença de mãe e filha ‘in vitro’ e estudar as atividades elétricas. Isso permitirá entender o comportamento anormal das células e testar novas drogas que corrijam o distúrbio”, diz o pesquisador Antonio Carlos Campos de Carvalho, coordenador de ensino e pesquisa do INC.

Os resultados do estudo serão publicados na revista científica Cell Transplantation. Segundo Carvalho, a descoberta de que o sangue menstrual teria células possíveis de serem reprogramadas ocorreu no laboratório da UFRJ e surgiu da ideia de que o útero sofre uma renovação celular acentuada – o que sugere a plasticidade maior das células por causa da alta taxa de renovação. Na ocasião, foram coletadas amostras de sangue menstrual de cinco mulheres saudáveis.

No sangue menstrual os pesquisadores encontraram um tipo de célula considerada a célula do futuro pela medicina, pela alta capacidade de transformação em tecidos do corpo: as células mesenquimais. “De fato, encontramos células mesenquimais, que são raríssimas no sangue periférico (do braço, por exemplo)”, afirma Carvalho.
A pesquisadora Regina Goldenberg, da UFRJ, percebeu que, em comparação a outros tipos de células, as mesenquimais eram “convencidas” mais facilmente a se comportar como células-tronco embrionárias. Assim, o procedimento para torná-las células de pluripotência induzida era mais simples. A técnica é especialmente promissora para as mulheres, que fornecem as células reprogramadas. “Homens também se beneficiarão indiretamente, caso os genes sejam parecidos com os de uma parente que se submeteu à técnica”, diz ela.
Carvalho afirma que, em relação às células cardíacas, o método tem duas vantagens principais: não é invasivo, evitando a biópsia do coração das pacientes para coletar células; e é mais rápido do que o método atual – que se dá por meio da coleta de fibroblastos (um pequeno recorte) da pele. “Pelo sangue menstrual, as colônias de células começam a se formar a partir do 10.º dia. Já pelos fibroblastos, demora cerca de 30 dias.”

Segundo Carvalho, apesar dos resultados positivos com as células do sangue menstrual, os pesquisadores ainda não conseguiram saber qual a quantidade necessária de sangue, nem atribuir a melhor idade para a coleta. A pesquisa ainda não está focando no uso terapêutico dessas células (aplicá-las direto no coração das pacientes), especialmente por se tratar de uma doença genética. Mas os cientistas já sonham com o dia em que as iPS poderão ser usadas em terapias

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