.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Células Tronco- A batalha da ciência x religião

Células-tronco – A batalha da ciência x religião


A dura batalha que os cientistas brasileiros têm enfrentado para obter autorização para as pesquisas com células embrionárias pode por em risco o avanço científico no Brasil

Cura para alguns tipos de câncer e doenças degenerativas; possibilidade de que pessoas com lesões na coluna e paraplégicas possam voltar a andar, cura para o mal de Alzheimer. Tudo isso pode parecer impossível à primeira vista, mas é no que muitos estudiosos e cientistas apostam conseguir com o avanço das pesquisas com as chamadas células-tronco

Células-tronco extraídas de embriões poderiam ser chamadas de coringas, células totalmente neutras capazes de se transformar em qualquer tipo de célula do corpo. São células sem características que as diferenciam de outras como as de músculo, por exemplo. É justamente essa característica que chamou a atenção dos cientistas e impulsionou a luta pelo avanço nas pesquisas. É ai onde começa a briga dos pesquisadores, obter espaço dentro da lei para manipular embriões em busca de células-tronco e fazer experiências que possam determinar o efeito que elas teriam em tecidos lesionados. E é também onde começa também – o que muitos chamam – de questão ética. É certo manipular um embrião humano para fins de pesquisa?

Existem dois tipos de células-tronco: as adultas, extraídas de tecidos maduros como o sangue, do cordão umbilical e da medula óssea (retirada da bacia); e as crianças, retiradas de embriões. As células adultas são mais especializadas e dão origem a apenas alguns dos tecidos do corpo. As células-tronco embrionárias tem se mostrado capazes de transformar-se em qualquer tecido do corpo, se colocada num fígado, se transformará numa célula de fígado, por exemplo. O problema, é que para extrair a célula-tronco, o embrião é destruído. Essa é chave da questão que têm levantado debates não só na comunidade científica, mas principalmente nos setores religiosos.

Segundo os geneticistas defensores da pesquisa, seriam usados apenas embriões descartados pelas clínicas de fertilização e que, mesmo se implantados no útero da doadora, ou de outra mulher, dificilmente resultariam numa gravidez. Ou seja, seriam embriões que provavelmente nunca se desenvolveriam e seriam descartados.

Para os grupos religiosos contrários às pesquisas com o uso de células-tronco embrionárias, esse processo poderia ser considerado um assassinato; já que eles consideram que a vida começa no momento da concepção.

As opiniões se dividem até mesmo dentro da igreja católica – maior opositora da aprovação das pesquisas. Muitos fiéis acreditam que o avanço da ciência nessa área é necessário para que muitas pessoas possam ter acesso à cura. É o caso do professor de biologia aposentado, Jorge Yossef Nadin, católico praticante membro da ordem de Vincentinos. Para ele, devem-se aproveitar embriões que não podem gerar vidas para se achar a cura para doenças que antes pareciam impossíveis de serem curadas. Em sua opinião,“Deus deu ao homem inteligência para melhorar Sua criação.”

Estava marcada para o último dia 5 de março, a votação que aprovaria o projeto de lei de Biossegurança (PL 2401/03) no Tribunal Superior Federal. A lei prevê – entre outras questões – permissão para que os cientistas brasileiros usem em suas pesquisas, células-tronco de embriões humanos congelados há mais de três anos, o que hoje é proibido no país.

Depois de um voto emocionado do ministro e relator do caso, Carlos Ayres Britto, o julgamento foi adiado por tempo indeterminado. Isso porque, através de uma manobra jurídica o ministro Carlos Alberto Direito usou de um instrumento legítimo que permite que ele tenha mais trinta dias para revisar o processo, é o pedido de vista. O problema é que a manobra do ministro pode ter adiado por meses, ou até anos, a votação do projeto de lei, já que o STF tem inúmeros processos na mesma situação aguardando uma decisão do tribunal.

Para alguns, a atitude do ministro Carlos Alberto em não votar contra o projeto, e sim fazer o pedido de vista, põe em cheque o poder que as entidades religiosas – sobretudo a igreja católica – têm sobre a legislação. O ministro é membro da União dos Juristas Católicos do Rio de Janeiro, e segue, portanto, o compromisso de defender a vida humana desde a concepção até a morte natural. Para o advogado Jabs Crês, que desaprova a atitude tomada pelo ministro, o Brasil não pode ter nenhuma restrição de cunho religioso em sua legislação.

A Lei de Biossegurança foi aprovada por 96% dos senadores depois de um longo debate. Em seguida, foi sancionada pelo presidente Lula. A demora da aprovação no STF pode significar a exclusão do Brasil entre os países que avançam nas pesquisas; e conseqüentemente demora na chegada da cura – caso ela seja comprovada – aos pacientes brasileiros.

Enquanto o Brasil ainda discute sobre a aprovação da Lei de Biossegurança, nos EUA já foram concedidas 57 patentes que envolvem células-tronco embrionárias humanas. Três empresas que já financiam as pesquisas há algum tempo, já obtiveram bons resultados em testes com animais e devem começar a testar terapias em humanos ainda este ano.

Infelizmente aqui no Brasil, enquanto leis sobre as pesquisas continuam indefinidas, sobram apenas esperanças de que o avanço das doenças siga um ritmo parecido com o adotado por nossos governantes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário